quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O efeito Marina e o feito Luciana



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Minutos antes do primeiro debate entre os presidenciáveis na Band o Ibope divulgou, no Jornal Nacional da Globo, a pesquisa confirmando as especulações, Marina estava na disputa pra valer. Confirmou o que se falava à boca pequena e cálculos grandes. “Marina entrou no G4 e parece ser treinada pelo Marcelo Oliveira”.
Segundo o instituto, a candidata passou com larga vantagem sobre Aécio e está nos calcanhares da Dilma (eu iria colocar que Marina está na cola da Dilma, mas poderia parecer deselegante) e vence o pleito no segundo turno. Resta saber se “verdeou ou vermelhou o olho da gateada”. Mas uma coisa é certa: amarelou o sorriso. Esse prognóstico é uma péssima notícia para Dilma e Aécio. Esses dados importam em duas facilidades para Dilma, pois é mais fácil ganhar de Aécio no segundo turno, como também, é mais fácil perder para Marina. Essa pesquisa foi um complicador de estratégias.
Marina traz no seu currículo um histórico de 30 nos de PT e de lutas pelos povos da floresta, seringueiros, ribeirinhos, meio ambiente, uma pobreza superada com sacrifico. Foi alfabetizada aos 16 anos. Claro, um balaio de votos da última eleição, cerca de 20 milhões. Esses são dados concretos sobre a pessoa da Marina. Mas temos dados subjetivos pra incluir nesse favorável percentual do Ibope. Após a trágica morte de Eduardo Campos houve comoção nacional, emoção estadual e uma exposição larga na mídia da possível candidata. O tamanho disso a gente não consegue mensurar, talvez nas próximas pesquisas os dados vêm mais sedimentados e com maiores possibilidades de análises. Um dado é correto, a terceira via está posta e tem nome, sobrenome e história.
Assisti, atentamente, todo o debate da Band. A melhor participação foi de Marina. Mais segura, tranquila e senhora dei si. Não entrou nas trollagens de Eduardo Jorge e manteve-se sempre serena e extremamente séria. Não resvalou nas frases e nem tropicou nos temas. Bem articulada ao emitir uma opinião. Marina incorporou a candidatura de presidente, não entrou na disputa para ser coadjuvante. Na gíria do futebol: Marina está focada.
Dilma e Aécio terão que despolarizar uma eleição que até então estava grenalizada. Alteram-se, da água com gelo para o vinho na temperatura ideal, as estratégias de campanha. Resta saber quem receberá o balde de água fria.
Mas o debate da Band colocou outra pauta na ordem do dia ou da noite: o debate ideológico protagonizado por Luciana Genro. Aliás, ideologia é coisa que não se discute no Brasil há mais de uma década.
No debate da Band Luciana Genro era a única representante da esquerda. A esquerda que discute politica em sua essência e aprofunda temas polêmicos. As demais candidaturas contemplam um centro povoado com diversas facetas e uma direita reacionária e homofóbica.
Mesmo com pouco tempo e menos acionada com perguntas, Luciana conseguiu de forma explicita e didática colocar sua postura diante de propostas como: imposto sobre grandes fortunas, reforma agrária e reforma urbana. Conseguiu se apresentar e mostrar qual o debate a ser feito nessa campanha, mas parece que não há intenção e nem interesse nas demais candidaturas em debater temas que envolvem a elite agrária e urbana. Esse vespeiro está intocado.
Quando Dilma – orientada pelos marqueteiros – fez uma pergunta ao Pastor, deixa deliberadamente de debater assuntos pertinentes para o futuro do Brasil com os concorrentes diretos. Comodamente, fugiu do enfrentamento.
Marina Silva entra na campanha para despolarizar a eleição e Luciana Genro para o debate político mais agudo, olho no olho, cara a cara.

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