domingo, 30 de maio de 2010

Esquerda... volver! Ou seria direita?

Para fazermos uma breve reflexão acerca do momento vivido pela dita esquerda devemos remontar a alguns acontecimentos recentes, que são fundamentais para essas elucubrações. Acontecimentos que influenciaram uma nova estratégia de esquerda.
E, queiramos ou não, o PT faz parte dessas análises. Depois de oito anos, qual o futuro de uma esquerda numa possível reeleição do Partido dos Trabalhadores na presidência? Qual a estratégia de um partido de esquerda nesse mundo globalizado pela economia? Quais ações garantem a governabilidade do PT se o partido der uma olhadela à esquerda no próximo governo? Essas perguntas serão respondidas nos próximos anos. Se a vitória de Dilma sepulta o DEM, a de Serra coloca a esquerda em polvorosa. E ressuscita o debate.
O ano de 1989 foi historicamente fundamental.
Um ano trágico para o pensamento de esquerda. O socialismo real desmoronou diante de nossos olhos estupefatos. A queda do muro de Berlin e os regimes ditos socialistas do leste europeu ruíram como castelos de areia. Essa ruína escancarou para o mundo um modelo falido de Estado e um modelo carcomido de gestão pública.
Em consequência disso alguns teóricos conservadores, mais afoitos, fizeram a apologia do capitalismo. Esse sim, real, excludente e concentrador de riquezas. Outros em um arroubo fatalista proclamaram o fim da história. Como se o capitalismo fosse a supremacia do bem-estar social (sic).
Mas diante dessa tragédia a esquerda perdeu algumas referências históricas e vem, ao longo desses anos, titubeando no campo teórico. Há uma crise de existencialismo que tomou conta da ideologia da esquerda que pretendia ser moderna e com visão de democracia participativa.
Em 2002 temos no Brasil a assunção ao poder de um partido de esquerda. O maior partido de esquerda da América e referência mundial. Dentro do governo há um vasto leque a ser analisado, hoje evidenciado pelos moderados reformistas que são hegemônicos na condução da linha política. E que fazem do pragmatismo eleitoral sua maior estratégia.
Costumo dizer que o governo social democrata de Lula é melhor que o governo social democrata de FHC. Para espanto de uns e ira de outros. Se Lula faz um programa de inclusão social e desenvolvimentista, é certo, também, que matem o modelo econômico oriundo de FHC.
Uma ruptura para um novo modelo econômico poderia ser um desastre e exemplos de rupturas desastrosas há inúmeras pelo mundo afora. Nesse sentido o governo interpretou a conjuntura histórica. Assim explicamos algumas medidas conservadoras do governo para manter a estabilidade monetária.
Lula não prometeu fazer uma revolução socialista no Brasil. Pelo contrário, apaziguou a direita com a famosa “Carta aos brasileiros” e com um vice conservador. Dentre outros, assumiu o compromisso com o desenvolvimento econômico com geração de trabalho e renda. E isso vem fazendo, mas o debate ideológico cai em outro campo, o da filosofia.
As perspectivas da esquerda no início do governo Lula eram bem maiores do que temos hoje. Será que as engrenagens da máquina pública não respeitam as ideologias? E, possivelmente, os ideólogos estejam projetando para o próximo governo uma guinada mais a esquerda, visto que a candidata tem uma prática mais revolucionária, por assim dizer, do que Lula. Mas, no bojo da atual conjuntura, o histórico de cada um não quer dizer, absolutamente, nada. Sei lá.
Afinal, o que é ser esquerda hoje?
Aí a porca torce o rabo. Pois nossos parâmetros voltam-se para o totalitarismo ou para o culto a personalidade de um populismo de ocasião.
O que mais ouvimos no Fórum Social Mundial de 2002 de companheiros de outros países, era a mesma preocupação de Lula. “Para o bem da esquerda o governo de Lula tem que ser vitorioso”.
Hoje, podemos dizer que o governo Lula é vitorioso, mas para o bem de quem?
Esse texto á mais reflexivo, pois também não tenho respostas para esse imbróglio todo em que estamos metidos. Mas o essencial nesse momento é debatermos. Afinal, depois da Copa do Mundo no país de Mandela a vida volta ao normal, ou deveria voltar ao normal.

4 comentários:

Vitor Biasoli disse...

Instigante tua provocação, Athos. Quanto a ser de esquerda hoje, penso que é ainda estar comprometido com a construção do socialismo. Mesmo que o socialismo soviético tenha dado com os burros n'água, penso que ainda dá para reinventar o modelo. E imagino que alguém conseguirá isto... daqui a algumas décadas.
Agora, pensar que a Dilma presidente garantirá alguma guinada maior para a esquerda... isto me parece delírio.
Acho legal apostar na Companheira. Bacana mesmo. É aquilo que é possível no momento.

Aguinaldo Medici Severino disse...

Bueno don Athos, este teu é mesmo um belo texto. Mas eu, que sou o menor dos anões desta província, acho que o atual governo é tudo, menos um governo de esquerda. No caso da gloriosa Dilma ser eleita a mediocridade será ainda maior e mais explícita. A inaptidão desta senhora para qualquer coisa associada a liberdade ou a democracia é uma coisa palpável. A vocação do Brasil é esta mesma, se iludir e continuar vivendo de ilusões. Como ninguém por aqui associa nada com nada (ninguém sabe uma simples regra de três), ninguém associa os problemas mais comezinhos do dia-a-dia com o patético governo que temos. Paciência. Abraços meu caro.

Iran Pas disse...

Buenas meu querido Athos. Sabe que gostei do texto, só acho que o Lula sim fez um governo social democrata, agora definir o do FHC como social democrata é forçar a barra esse dai foi mesmo é liberal ao extremo. quanto a uma guinada de Dilma a esquerda é meio dificil com a composição conservadora eleitoral pragmatica que esta sendo construida, mas não da para desistir até porque com o esquerdismo não se avança nada. senão vejamos, se o Zé Maria, ou qualquer outro da esquerdalha um dia virar presidente no outro dia o partido deles rompe com ele porque não sabe e não quer ser governo ainda mais numa situação onde não é possivel emparedar os adversarios e mesmo que fosse possivel, na Venezuela a corrente do Pstu, Psol PCO e outras esquerdistas se colocam a esquerda do Chaves, em Cuba a mesma coisa, Bolivia e por ai a fora, se hai Gobirno soy contra.

Athos Ronaldo Miralha da Cunha disse...

Valeu Iran.
Pela leitura e pelo belo comentário. Era essa a intenção, penso que devemos discutir a esquerda hoje e que caminho trilhar.
Agradeço a todos a leitura e fico satisfeito se proporcionou alguma reflexão.

Athos