Houve um tempo em que trabalhei numa empresa
de construção civil. O meu habitat era de orçamentos, reformas, fiscalização de
obras e negociação com clientes. Vivia para os cálculos, régua T e esquadros.
E foi por conta de um piso na garagem de
um prédio residencial que me estressei com a dona Rejina, síndica do
condomínio. Nas negociações com a dona Rejina – isso mesmo com j – acabei
prometendo um piso de primeira qualidade. Um piso que jamais outra empresa
havia feito na cidade. Afirmei que ela e os condôminos ficariam satisfeitos com
a contratação da nossa empresa. Nossa empresa faria uma revolução na construção
civil com aquele piso. Um piso excelente como poderia ser um piso em qualquer
recanto do país. Concluí, taxativamente, diante da síndica, que a mão de obra
da firma era muito qualificada. Dona Rejina era uma professora muito
desconfiada. Me olhou com uns olhos “estou pagando para ver” e percebi que ela
ficou com a pulga atrás da orelha. Mas contratou nossos serviços após uma
tumultuada reunião no condomínio.
O andamento da obra foi a contento. Estava
satisfeito com o resultado do trabalho realizado. Embora os parcos recursos, a
obra foi entregue no prazo estabelecido.
Então, começaram os problemas com a
insatisfação da dona Rejina. Ela não gostou. Argumentou que o material
prometido não constava no piso. Que o acabamento do piso estava aquém do
combinado.
– Esse não era o piso que havia
prometido nas negociações – Dona Rejina falou e estava furiosa, e convocou uma
reunião urgente do condomínio para tratar do assunto. Falou que iria levar os condôminos
para frente da empresa para reclamar do piso.
Contra-argumentei que o piso estava bom
e que o padrão era o mesmo na maioria dos pisos dos estados e do país. O máximo
que eu poderia fazer era trocar o rejunte e que depois de uma obra concluída
era impossível refazê-la. A emenda ficaria pior que o soneto. Afinal, era um
piso que poderia ser feito em qualquer lugar do Rio Grande do Sul, do Brasil,
do Mundo. Dona Rejina virou e saiu sem se despedir. Não deu um adeusinho
sequer.
Embora todos os nossos arranca-rabos, eu
não paguei o piso da dona Rejina. A obra estava bem feita e entregue. Assunto encerrado.
E depois do almoço, embora sendo uma segunda-feira, fui tirar uma pestana.
Hoje, ela cruza por mim e sequer me
cumprimenta. Fazer o quê. E nós éramos muito amigos.
Esse trauma ainda me persegue,
toda vez que piso em falso em um piso inacabado eu lembro da dona Rejina e os
seus olhos de “estou pagando para ver”.
Um comentário:
GOSTEI DO GRAN FINALE....PAGANDO PARA VER....
NÃO DÁ PARA PISAR EM FALSO.....
AGORA A GENTE TEM O PISO DO SEU TARSO....
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