quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Lua castelhana


 
Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Depois da estreia com “Helena de Uruguaiana” Maria da Graça Rodrigues nos apresenta “Lua castelhana”.
Uma narrativa que passeia pelo tempo e nos traz os encontros e desencantos de um atleta e de uma idealista repórter. A infância em Bella Unión e Uruguaiana, a ascensão e o auge numa equipe de Porto Alegre e o declínio numa praia pouco frequentada no Uruguai. Isso tudo numa época em que ter opinião poderia ser motivo de clausura e desaparecimento e jogar bola numa equipe de ponta não era sinônimo de futuro garantido.
Juan Rios é o craque. Ana Lúcia a jornalista.
Juan Rios se vê transtornado pelo desaparecimento de sua amada Ana Lúcia, pois a jornalista havia publicado uma entrevista com um conhecido político brasileiro exilado no Uruguai, e, por conta dessa reportagem, fora sequestrada. O craque amargurado pela ausência da companheira, falha na cobrança de um pênalti. No mesmo palco onde outrora fora ovacionado Juan Rios é vaiado por 55 mil torcedores.
Nesse romance Maria da Graça nos remete para questões relevantes sobre a alienação dos heróis da bola, o silêncio de uma imprensa sufocada pela censura e uma jornalista desaparecida por conta de sua audácia.
A autora não desvenda qual grande time de Porto Alegre jogava o Juan Rios, mas eu suspeito que seja o Internacional. Uma dedução tirada no próprio livro.
Um dado importante revelado pela narrativa – de pouco conhecimento dos desportistas de um modo geral – é a origem da palavra “vareio”. Para isso Maria da Graça reporta a primeira vitória do Internacional sobre o Grêmio: seis a zero.
O livro tem uma dinâmica agradável e se sustenta envolvendo o leitor. Trata de um tema pouco usado na ficção, o futebol. E transita por um tempo muito presente, os anos de chumbo. Talvez a Ana Lúcia – pela personagem forte que é – merecesse uma sobrevida. Ou uma morte mais detalhada.
Enfim, uma recomendável leitura para quem gosta de futebol e para quem deseja algo mais do que o esquecimento de uma época de exceção.

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