quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Frutas amargas




Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Um livro do Colmar Duarte a gente espera mateando despacito sob as melenas de um umbu. Aguarda-se na expectativa de nos encontrarmos como gaúchos. Pacientemente contemplando o pôr do sol na pampa, saboreando os doces sonhos de criança ou na parceria de um mate cevado pela patroa.
Um livro do Colmar transita pela vivência dos autênticos homens e mulheres do campo e a profundidade dessa alma campesina que habita em cada um de nós. Tem cheiro de mato e plenitude do cosmo. O livro do Colmar Duarte é neto de uma torcaça e do vento Pampeiro. É um cardeal nas laranjeiras.
A universalidade está expressa na trajetória literária desse uruguaianense. E em “Frutas amargas” temos o universo dos gaúchos, os encontros e desencontros. As perdas que amarguram corações e sentimentos feridos por uma partida. Há traição, amizade e um desejo incontido de ser feliz.
Há muito mais em “Frutas amargas”. A esplêndida diferença entre paixão e amor: A paixão é tormenta, o amor é chuva sem vento. A paixão derruba muros e arranca telhados que, ao serem reconstruídos, apagam os rastros de sua passagem. Já quando do amor se trata, os ventos não destroçam muros nem levam telhados, mas abrem fissuras e deixam goteiras; e essas são para toda a vida.
Há sentimento, saudade, olhares furtivos, tiradas espirituosas – temperos de um humor campeiro e inteligente – e reflexão sobre o que temos feito e o que deveríamos fazer. No livro o campo está presente e o campesino é protagonista.
Nesse “Frutas amargas” temos um passeio pelos pagos gaúchos. Personagens marcantes por serem simples e, dialeticamente, complexos por serem tratados com destreza e sapiência de quem carrega no seu interior a lida campeira.
“Por algo sou pelo duro e o campo é meu elemento, na alma penas e vento” é assim que Colmar se define como um genuíno pampiano no poema “Canto livre”. E, assim, também é a narrativa: o campo é o elemento.
Tome um mate sem pressa e vá sorvendo essas páginas, pois não faltará tempo e açúcar suficiente para as “Fruta amargas” que necessitamos adoçar. Pois, o que era doce não foi esquecido. Como bem falou a marcante personagem Dalva.
Boa leitura.

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